As 7:30 com 5° pegamos a estrada (30 km de esfalto e subindo). Lindos vales e curvas até chegarmos no topo do trecho, a 3000m na frente da mina de cobre. Alí começa o rípio.
Este trecho estava ótimo. Muito liso, parecendo realmente asfalto, conforme disseram os Alemães no dia anterior. Seriam 130 km até o meio do Salar de Mancunga onde se encontra a aduana Chilena e onde esta estrada se encontra com a outra via que sai de Copiapó.
No caminho, com muito sol e frio, ligamos os aquecedores de manetes para aliviar o frio nas mãos. Santos aquecedores. Paramos também para dar uns goles de conhaque.
Por volta do 1/2 dia chegamos a aduana chilena. Com vários caminhões a nossa frente, esperamos 1 hora pela burocracia, comemos os sanduíches extras, colocamos a gasolina extra nas motos e tocamos para o passo. Na conversa com um dos camioneiros, ele avisa que os 110 km à frente são ruins. Mal sabíamos o que teríamos pela frente.
Após os 10 primeiros kilometros, inicía um trecho em construção. Aparentemente a estrada será asfaltada. Aí, é claro, começam os malditos desvios. Areia, muita areia, brita solta e funda, friozinho de 5 graus, altitude acima dos 4000 metros e velocidade média de 15 km/hora. Além disso, quando passava uma caminhão vinha uma nuvem de poeira braba.
Depois de 2 horas avançamos míseros 40 km. Decidimos baixar a pressão dos pneus para ter mais aderência, pois um tombo ali naquela altitude seria bem desagradável. O Paulinho estava sofrendo com a "puna" (mal da altitude). Enjôo, tontura, dor de cabeça.
O desempenho melhorou muito após aliviar a pressão dos pneus. Agora já podíamos andar a cerca de 40 e até 50 km/hora. depois de 4 horas de estrada fomos surpreendidos por uma imagem que jamais esqueceremos. É difícil descrever. No meio daquele inferno de areia e poeira surge após uma curva uma lagoa cristalina, de cor azulada, embora o nome seja "Laguna Verde". Ficamos alí abobalhados olhando aquilo. É muito louco, de um lado o vulcão "Ojos del Salado". É o vulcão ativo mais alto do mundo com 6893 m (a 2a maior montanha das américas, só menor que o Aconcágua). Do outro aquela lagoa. Muita alegria, filmes, fotos. A água da laguna é absurdamente salgada. Acho que deve ser difícil afundar ali.
Após a laguna uma placa aponta mais 20 km até a fronteira. Acho que foram os 20 km mais longos que já passamos. Finalmente, por volta das 18 horas chegamos ao topo e cruzamos o passo. Estávamos a 4726 m de altitude. O vento era muito forte. Do lado argentino uma linda estradinha asfaltada nos esperava. Que visão.
Da fronteira até a aduana argentina são apenas 21 km. Quando se desce, a vista é inacreditável. Não sei se foi a gentileza daquele asfalto, mas a vista era tão incrível, que eu (Paulinho) não segurei a onda e comecei a chorar. As montanhas são escuras, quase pretas. Estavam cobertas por uma vegetação na forma de pequenos tufos de cor amarela. Ao fundo um salar e uma outra laguna, cercados montanhas com diversas cores, roxo, lilás, verde, enfim. No meio daquele amarelo, a estrada preta serpenteando e descendo. E o vento havia parado. Não foi fácil.
Nos encontramos todos na aduana, fizemos a burocracia e nos mandamos. A idéia era dormir em Fiambala. É uma pequena cidade a 180 km da aduana. Mas já estava tarde (19:00) e a moto do Quico está sem farol.
Na aduana um militar nos diz que a 90 km há um hotel novo que talvez pudéssemos ficar.
Chegamos no tal hotel por volta das 20h. Encontramos de fato um mega hotel em construção. O cara que estava cuidando (Hernan) nos diz que pode nos dar abrigo.
Não havia mobiliário, mas como temos colchões e sacos de dormir, não teríamos problemas. Estava também dando abrigo a um grupo de argentinos que estava indo para escalar o vulcão "Ojos del Salado".
Sobre rango, nos disse que poderia servir um "pollo com fideo" (frango com massa). E para completar, disse que as 21 horas ele ligaria o gerador por 2 horas, garantindo uma belo banho quente. Ahhh a vida é bela hahahahahhah.
O Herman prometeu e cumpriu. Alojamento em uma mega suíte, banho super quente e massa com frango e uma garrafa de vinho. Ahhh a vida é bela hahahahahhah.
Kilometragem do dia: 360 km
Asfalto: 130 km
Rípio bom: 100 km
Rípio ruim/areia: 130 km
Tempo: 8:00 - 20:00 = 12 horas
Boas do dia:
A "Laguna Verde" depois da curva;
A placa de fronteira do Passo de São Francisco;
O asfalto no lado argentino com montanhas amarelas;
Saber que o chuveiro quente prometido pelo Hernan era de verdade.
Postado por Paulinho em 17/12/2010 em Mendoza
O melhor da viagem é o inusitado, não é mesmo? Me emocionei só de ler a emoção do Paulinho... Aí por esses pagos, a natureza sempre nos presenteia nos caminhos mais difíceis...
ResponderExcluirÉ Verdade Mara, tambem chorei de emoção quando saímos da Laguna Miscante pelo sangradouro da mesma, caminho num leito de rio por onde poucas pessoas passaram, o contraste do Amarelo da vegetação e o azul do ceu, faz a alma suspirar e as lagrimas vem.
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