sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

15° dia, 2a-feira, 13.12.2010 - A caminho do Passo de São Francisco

Acordamos mais cedo, café no hotel com direito a sanduíche extra para o resto do dia, abastecemos as motos e os tanques extras pois teríamos, segundo os relatos, pelo menos 450 km sem chances de gasolina pelo caminho.

As 7:30 com 5° pegamos a estrada (30 km de esfalto e subindo). Lindos vales e curvas até chegarmos no topo do trecho, a 3000m na frente da mina de cobre. Alí começa o rípio.

 Este trecho estava ótimo. Muito liso, parecendo realmente asfalto, conforme disseram os Alemães no dia anterior. Seriam 130 km até o meio do Salar de Mancunga onde se encontra a aduana Chilena e onde esta estrada se encontra com a outra via que sai de Copiapó.



No caminho, com muito sol e frio, ligamos os aquecedores de manetes para aliviar o frio nas mãos. Santos aquecedores. Paramos também para dar uns goles de conhaque.




Por volta do 1/2 dia chegamos a aduana chilena. Com vários caminhões a nossa frente, esperamos 1 hora pela burocracia, comemos os sanduíches extras, colocamos a gasolina extra nas motos e tocamos para o passo. Na conversa com um dos camioneiros, ele avisa que os 110 km à frente são ruins. Mal sabíamos o que teríamos pela frente.

Após os 10 primeiros kilometros, inicía um trecho em construção. Aparentemente a estrada será asfaltada. Aí, é claro, começam os malditos desvios. Areia, muita areia, brita solta e funda, friozinho de 5 graus, altitude acima dos 4000 metros e velocidade média de 15 km/hora. Além disso, quando passava uma caminhão vinha uma nuvem de poeira braba.

Depois de 2 horas avançamos míseros 40 km. Decidimos baixar a pressão dos pneus para ter mais aderência, pois um tombo ali naquela altitude seria bem desagradável. O Paulinho estava sofrendo com a "puna" (mal da altitude). Enjôo, tontura, dor de cabeça.


O desempenho melhorou muito após aliviar a pressão dos pneus. Agora já podíamos andar a cerca de 40 e até 50 km/hora. depois de 4 horas de estrada fomos surpreendidos por uma imagem que jamais esqueceremos. É difícil descrever. No meio daquele inferno de areia e poeira surge após uma curva uma lagoa cristalina, de cor azulada, embora o nome seja "Laguna Verde". Ficamos alí abobalhados olhando aquilo. É muito louco, de um lado o vulcão "Ojos del Salado". É o vulcão ativo mais alto do mundo com 6893 m (a 2a maior montanha das américas, só menor que o Aconcágua). Do outro aquela lagoa.  Muita alegria, filmes, fotos. A água da laguna é absurdamente salgada. Acho que deve ser difícil afundar ali.








Após a laguna uma placa aponta mais 20 km até a fronteira. Acho que foram os 20 km mais longos que já passamos. Finalmente, por volta das 18 horas chegamos ao topo e cruzamos o passo. Estávamos a 4726 m de altitude. O vento era muito forte. Do lado argentino uma linda estradinha asfaltada nos esperava. Que visão.

Da fronteira até a aduana argentina são apenas 21 km. Quando se desce, a vista é inacreditável. Não sei se foi a gentileza daquele asfalto, mas a vista era tão incrível, que eu (Paulinho) não segurei a onda e comecei a chorar. As montanhas são escuras, quase pretas. Estavam cobertas por uma vegetação na forma de pequenos tufos de cor amarela. Ao fundo um salar e uma outra laguna, cercados montanhas com diversas cores, roxo, lilás, verde, enfim. No meio daquele amarelo, a estrada preta serpenteando e descendo. E o vento havia parado.  Não foi fácil.


Nos encontramos todos na aduana, fizemos a burocracia e nos mandamos. A idéia era dormir em Fiambala. É uma pequena cidade a 180 km da aduana. Mas já estava tarde (19:00) e a moto do Quico está sem farol. 
Na aduana um militar nos diz que a 90 km há um hotel novo que talvez pudéssemos ficar. 

Chegamos no tal hotel por volta das 20h. Encontramos de fato um mega hotel em construção. O cara que estava cuidando (Hernan) nos diz que pode nos dar abrigo.



Não havia mobiliário, mas como temos colchões e sacos de dormir, não teríamos problemas. Estava também dando abrigo a um grupo de argentinos que estava indo para escalar o vulcão "Ojos del Salado".



Sobre rango, nos disse que poderia servir um "pollo com fideo" (frango com massa). E para completar, disse que as 21 horas ele ligaria o gerador por 2 horas, garantindo uma belo banho quente. Ahhh  a vida é bela  hahahahahhah.



O Herman prometeu e cumpriu. Alojamento em uma mega suíte, banho super quente e massa com frango e uma garrafa de vinho. Ahhh  a vida é bela  hahahahahhah.

Kilometragem do dia: 360 km
Asfalto: 130 km
Rípio bom: 100 km
Rípio ruim/areia: 130 km
Tempo: 8:00 - 20:00 = 12 horas

Boas do dia:

A "Laguna Verde" depois da curva;
A placa de fronteira do Passo de São Francisco;
O asfalto no lado argentino com montanhas amarelas;
Saber que o chuveiro quente prometido pelo Hernan era de verdade.

Postado por Paulinho em 17/12/2010 em Mendoza

2 comentários:

  1. O melhor da viagem é o inusitado, não é mesmo? Me emocionei só de ler a emoção do Paulinho... Aí por esses pagos, a natureza sempre nos presenteia nos caminhos mais difíceis...

    ResponderExcluir
  2. É Verdade Mara, tambem chorei de emoção quando saímos da Laguna Miscante pelo sangradouro da mesma, caminho num leito de rio por onde poucas pessoas passaram, o contraste do Amarelo da vegetação e o azul do ceu, faz a alma suspirar e as lagrimas vem.

    ResponderExcluir